Rito Escocês Antigo e Aceito

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: UMA ABORDAGEM MAÇÔNICA

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Por Danilo Bruno

EDUCAÇÃO

Ao discorrermos sobre educação, notadamente no seio da Ordem Maçônica onde possui grande destaque, não podemos simplificar seu significado, limitando-nos a discorrer acerca da educação escolar, tecnológica ou mesmo científica, mas sim buscar sentidos amplos e latos que se aproximem de uma correta definição de conceito tão primordial, pois é presente em toda e qualquer sociedade, independente do grau de evolução, e com grande parcela de responsabilidade pela manutenção dos fundamentos basilares de qualquer grupo social, contribuindo de maneira decisiva para a evolução de seus membros e, consequentemente, desta.

Perpassando a definição básica de ensinar e aprender, a educação significa transferência de hábitos, costumes e descobertas entre as gerações, pois normalmente o processo origina-se de um membro mais experiente para o menos experiente, possuindo o desiderato de impactar os indivíduos envolvidos, esperando que os educados descubram sua importância na sociedade, confiando que a nova geração irá avançar nas mais diversas necessidades encontradas pela sociedade, incluindo problemas sociais, econômicos, políticos, culturais ou extremos como bélicos, segregacionistas, preconceituosos.

Amplamente, a educação também engloba conceitos intrínsecos ao bom andamento de toda e qualquer sociedade: civilidade, socialização e, mais profundamente, cortesia e amor.

Esse processo educacional tanto engloba a educação formal, direcionada para determinados conhecimentos quanto a informal, mais ampla e necessária, ensinadas em relações cotidianas, sociais, profissionais, afetivas…

A educação é um processo natural e inerente ao ser humano, comumente nos deparamos com situações nas quais descobertas, sentimentos e reações novas nos oportunizarão a possibilidade de pôr em prática o que temos aprendido de maneira formal.

Afinal quando se pede sabedoria ao Grande Arquiteto do Universo, nos são concedidas situações para sermos sábios; Quando pedimos paciência, situações para sermos pacientes; Quando pedimos amor, situações para amar. Situações onde seremos educados a ser pessoas melhores.

CIDADANIA

Cidadania, a luta por direitos civis, políticos e sociais e os consequentes deveres advindos dessas conquistas permeiam toda a história da humanidade, presentes desde a luta da maioria contra a minoria detentora de privilégios até os anseios de classes minoritárias, oprimidas e/ou vulneráveis.

Por isso, a busca da Cidadania nunca estará terminada, pois ao evoluirmos, também evolui nossa responsabilidade para com o próximo, renovam-se as lutas por direitos, liberdades, garantias individuais e coletivas.

Isso porque ser cidadão é ter a consciência de ser sujeito de direitos em sentido amplo, não devendo ser olvidados os naturais deveres que os acompanham. O conceito de cidadania possuiu forte ligação histórica com os direitos políticos por conta das pólis, cidades-estado gregas, onde era imperioso ao cidadão o direito de intervir na organização de seu estado, participando, ainda que de maneira indireta, na formação do governo e no modo deste administrar.

Já os deveres do cidadão incluem desde o trato com nosso semelhante até o respeito pela coisa pública, perpassando o meio ambiente que nos cerca. Abrange conceitos tão importantes e amplos como solidariedade, democracia, direitos humanos, ecologia, ética e moral. Não basta estar e fazer parte da sociedade, necessário é agir para a evolução coletiva, assumindo os deveres com a plena consciência de serem indispensáveis, pois somente com a contribuição ordenada e justa de todos, o bem comum pode ser alcançado.

Assim, uma boa cidadania implica a estreita ligação entre direitos e deveres, lembrando que a justa observância de ambos constrói uma sociedade equilibrada e sadia, pois a definição de direitos pressupõe necessariamente a existência de deveres, pois o cumprimento destes permite a garantia daqueles.

Como marcantes exemplos da luta pela cidadania, podemos lembrar a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, ambos com importante participação Maçônica, não devendo ser olvidado que estes movimentos romperam a idéia de rei e súdito então vigente para ensinar um novo modo de pensar, os direitos do cidadão. Após estes eventos, as lutas cresceram e ramificaram-se, pois o conceito e prática da cidadania foram estendidos para pessoas em situação precária ou que são minorias, como mulheres, crianças, refugiados.

No Brasil, os primeiros movimentos para a obtenção de um ideal cidadão contaram com firme participação Maçônica, como a Conjuração Baiana, Inconfidência Mineira, acompanhada das lutas pela Independência, Abolição da Escravatura, Proclamação da República e a constante luta pela alternância do poder que perdura até os dias atuais.

A soma das conquistas, reparação de injustiças sociais, civis e políticas, possibilidade de prática efetiva e consciente de direitos naturais, observância e cumprimento dos deveres para com nosso próximo, coletividade e universalidade, bem como a constante busca em ampliar essas conquistas resume bem o conceito de cidadania.

EDUCAÇÃO MAÇÔNICA

É comum a constância das respostas dadas aos interessados em iniciar na Maçonaria quando indagados sobre o que esperam encontrar na Ordem: Educação, Conhecimentos, Sabedoria, Evolução, Crescimento pessoal… Comum é a esperança que nossa Ordem Maçônica possua um sistema de ensino diferenciado e efetivo, afinal possui importante participação história e é composta por homens cultos, de boa índole, progressistas e estudiosos. Assim o anseio do profano, e de sua família, é que a Maçonaria possa transformá-lo em um homem melhor, que chumbo seja convertido em ouro, que as arestas de nossa Pedra Bruta interior sejam desbastadas até possuir os ângulos retos de uma Pedra Cúbica.

Porém logo o Iniciado percebe que tais benesses existem de fato, mas não são simplesmente entregues pela Maçonaria, mas oportunizados a seus Membros que devem obtê-los mediante o próprio esforço, mediante o suor de um labor diário e constante. Busca esta que possui a virtude de aumentar nossa compreensão da vida e de como podemos ser úteis ao ambiente que nos cerca, melhorando nós mesmos de maneira contínua e auspiciosa.

Isto porque as tradições e ensinamentos iniciáticos pertencentes à Maçonaria possuem o desiderato de permitir o usufruto da vida de maneira plena e livre de amarras, pois quebra barreiras imanentes a nosso mundo material e consumista, nos guia para o engrandecimento pessoal que sempre reverbera em uma melhora social.

Assim, o Maçom há de ser um homem livre. Não no simples conceito de escravidão laboral, mas livre de servilismos e vícios variados, enraizados em nossa sociedade como “normais” e “toleráveis”, o Bom Maçom respeita seu corpo, sua família, sua cidade, Estado e Nação. Assim procura ser bom marido, pai, filho, cidadão…

A Maçonaria incentiva a vitória sobre nossas restrições e que esta não se limite ao Eu, mas seja capaz de conduzir nossos Irmãos ao mesmo Bom Combate. Cada Membro traz para a Maçonaria suas aptidões e seus anseios mais nobres e altruístas, sendo esses bem acolhidos por Irmãos com expectativas, qualidades e defeitos similares.

Também não se deve olvidar que o sucesso pessoal depende da nossa força de vontade e que o labor maçônico, constante e altruísta, nos inspira, instrui. Fortalece o caráter do Obreiro que leva consigo a responsabilidade de pertencer a uma Instituição com respaldo e respeitabilidade social que tem o condão de domar paixões e atitudes impensadas que seriam comuns no Mundo Profano, mas inaceitáveis quando pertencentes a um Iniciado.

Assim, a Educação, Conhecimentos, Sabedoria, Evolução, Crescimento pessoal buscados pelo Maçom devem, em princípio, serem obtidas no cotidiano, em pequenos, porém firmes e constantes gestos, pensamentos, ações e atitudes que, felizmente, culminarão em nossa evolução individual e social.

Esta caminhada é facilitada pelos livros a que temos acesso, pelas instruções ministradas, pelas atitudes solidárias e éticas que nos são permitidas, mas principalmente pelos exemplos de cultura, estudo, abnegação, altruísmo, trabalho e entrega que nossos semelhantes praticam diuturnamente e reverberam em toda a comunidade. Exemplos esses que, felizmente, a Maçonaria possui em grande quantidade.

CIDADANIA MAÇÔNICA

Sempre questionada na Ordem Maçônica, a proibição de discussão política em nossos Templos não se refere a todo e qualquer assunto político, mas cinge-se a política partidária e esta faz sentido quando vemos Irmãos honestos e bem intencionados filiados aos mais diversos partidos, com ideologias e conceitos, não raras vezes, diametralmente opostos.

Assim, a discussão sadia e engrandecedora acerca dos rumos da política em nosso Município, Estado de País, de maneira respeitosa e sempre lembrando a responsabilidade do Maçom, é salutar e deve ser incentivada.

Também porque o Maçom, como construtor social, deve fazer coro a Aristóteles quanto este afirma ser o homem “Um animal político”, pois a política bem conduzida é uma necessária ao pleno desenvolvimento das sociedades.

Nossos juramentos prevêem de maneira expressa a defesa de valores tão caros a toda e qualquer sociedade como Liberdade, Democracia, República, não podendo o Maçom, renunciar sequer a defesa destes sob pena de se tornar perjuro e ineficaz na construção social a qual jurou fazer parte. Por isso o Maçom é ligado umbilicalmente à Cidadania de maneira plena e indistinguível.

É intrínseco ao Maçom o papel de liderança na busca por uma cidadania plena e livre, pois a atuação em defesa da liberdade e da democracia são resultados diretos dos trabalhos feitos em nossas Lojas, quando nos reunimos coberto de indiscrições profanas, em ambiente propício a evolução individual e coletiva.

A atuação dos Maçons deve, necessariamente, conter a busca da perfeição, primeiramente a melhora individual e coletiva da Loja e, após, a reverberação desta para nossa tão necessitada comunidade, devendo ser estendida a toda nossa Nação. 5.

CONCLUSÃO

Todo Maçom é, antes de adentrar nossos Templos, um cidadão na plenitude de seus direitos e na fiel observância de seus deveres. Ao ser reconhecido Maçom aceita o labor de aumentar tanto de maneira qualitativa quanto quantitativa a educação, individual e coletiva que carrega consigo, bem como a cidadania, concretamente lutando para sua efetivação e extensão aos desafortunados que não foram contemplados com os direitos arduamente garantidos.

Não devemos olvidar que a disseminação da Educação e Cidadania é responsabilidade inseparável da condição Maçônica, a história nos orgulha com livres pensadores, batalhadores honestos e diligentes que muito contribuíram para desenvolvimento humano e que clamam para que seu trabalho seja continuado pelos Pedreiros Livres.

A Maçonaria é nossa responsabilidade, caso ela não esteja atingindo o quanto proposto e o quanto possível, considerando a quantidade e qualidade de seus membros, considerando a força e respeito adquiridos após séculos de atuação discreta, porém firme e importante na sociedade, necessário é o resgate de idéias, ações e atitudes inerentes a todo Maçom e importantíssimos nos dias hodiernos.

Devemos incentivar o estudo, a pesquisa, o saudável e salutar debate de idéias e opiniões; Devemos promover a Educação e a Cidadania Maçônicas, nunca olvidando ser compromisso inerente ao Sublime Grau de Mestre Maçom, pois estas possuem o justo desiderato de melhorar-nos para que possamos expandir essa evolução para a sociedade na qual estamos inseridos.

Lembremos que o que parece utopia para o profano, é um sonho possível para os Maçons. Não olvidemos que as bençãos e auxílios do Grande Arquiteto do Universo são concedidos a quem está disposto a evoluir, sair da zona de conforto, lembremos de acreditar na Providência Divina, mas fazendo nossa parte.

Afinal, Educação e Cidadania são conceitos profanos que devem ter influência dos Maçons, porém a Educação e Cidadania Maçônicas são conceitos Maçônicos que devem impactar positivamente o Mundo Profano.

Isto porque somos homens livres e de bons costumes, devemos sê-lo em sentido amplo, em todas as dimensões e oportunidades concedidas, só assim o Mundo Profano conhecerá, compreenderá, respeitará e aceitará a Maçonaria.

Reflexões acerca do Cargo de Secretário

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Por Danilo Bruno

Em meus estudos maçônicos sempre está em destaque o caráter coletivo da construção maçônica, ou seja, nenhum obreiro, por mais dotado de espiritualidade, inteligência e organização conseguiria, sozinho, manter um bom andamento sequer em uma pequena Loja Maçônica, sendo imperiosa a cooperação para um pleno e sustentável desenvolvimento, tanto profano quanto maçônico.

Também sempre é ressaltado que, respeitando e aproveitando nossa diversidade, cada Obreiro tem uma característica mais forte para doar a Ordem, alguns possuem mais recursos materiais, outros tempo livre, há os que tem facilidade em escrever, em discursar, ou seja, a nenhum obreiro é dado furtar-se a colocação de sua pedra cúbica na construção do templo individual e coletivo pois todos nós possuímos características mais desenvolvidas provenientes do estudo e aperfeiçoamento e, dependendo da crença do Irmão, de um dom do Grande Arquiteto do Universo ou desenvolvidas em vidas passadas.

Com essas ideias interiorizadas, a realidade sempre me desafiava quando ocorria eleição de Venerável Mestre. Isto porque o cargo de Secretário (na Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia são eleitos o Venerável Mestre, 1º e 2º Vigilante, todos os outros são indicados pelo primeiro) era motivo de grande disputa… para ver quem ficava de fora.

Muitas eram as razões: excesso de trabalho, falta de tempo, falta de habilidade na escrita, desconhecimento dos trâmites para solenidade como iniciação, exaltação…

Tal fato relembrou-me o quanto ensinado de forma veemente em Loja de Perfeição: A Maçonaria “exige” do obreiro muito pouco, contabilizando-se as horas necessárias por semana para um bom desempenho do cargo, a quantia de metais dispensada, o trabalho físico e/ou intelectual, percebemos que são mínimos em relação ao que dispensamos com outras atividades importantes ou nem tanto, afirmação comprovada por simples empirismo.

Com esses ensinamentos questionei a alguns Irmãos, da minha Loja e de outros Orientes, o porque deste receio de tão importante e vital cargo para o bom funcionamento de qualquer Loja, sendo considerado por alguns o “braço direito” do Venerável Mestre.

Até porque se não conseguimos fazer feliz nossa Loja, como poderemos fazer feliz a humanidade?

Assim, nessa jornada de perguntas e mais diferentes e criativas resposta não demorou a vir minha indicação para o cargo de Secretário.

É importante destacar que, em Loja, o Secretário é representado pela Lua pois esse astro não emana Luz, mas reflete a que recebe, simbolizando a necessidade de ajuda (nem que seja atenção às leituras feitas) por parte dos obreiros.

Tomando por base a Lua, o Secretário deverá esforçar-se para refletir o que ocorre em loja de maneira imparcial, sem rechear o balaústre e as pranchas de elogios ou críticas. A Jóia do Secretário é composta por Duas Penas Cruzadas, pois a pena era (é?) um instrumento de escrita e o cruzamento das duas assegura a necessária ligação do passado com o presente, a tradição que registra o quanto acontece em loja para a posteridade, cabendo ao Secretário bastante atenção na feitura das atas para que a história da Loja seja contada de maneira correta.

A primeira reação é a de temeridade, pois contando com pouco mais de três anos de iniciado e com vinte e oito de nascido, fatalmente nossa vivência é mínima em comparação com Irmãos mais preparados e abnegados a ponto de exercem com dedicação e fervor o cargo de Secretário no transcorrer de vários veneralatos.

Mas, despido de vaidade e munido da mais sincera e abnegada vontade de ajudar, aqui estou no exercício do temido cargo.

Acredito que alguns dias livres serão doados à organização da secretaria, algumas horas diárias tem que ser reservadas para feitura de balaústres, comunicação da Loja e processos de iniciação e aumento de salário, mas nada que nos prive do convívio familiar e afete o trabalho profano, basta boa vontade e ajuda dos obreiros do quadro para tais atividades não serem martírios ou olimpíadas, mas bom combate.

Esse trabalho não deve buscar holofotes, fama e/ou reconhecimento, ainda que estes, eventualmente, possam vir em decorrência de um trabalho feito de maneira contínua e desinteressada. Os que exaltam e divulgam suas conquistas e méritos recebem suas recompensas, porém estas estão restritas à matéria, enquanto quem constrói seu templo interior e partilha seus trabalhos e conhecimentos com os Irmãos de forma humilde e desinteressada, tem a recompensa muito mais doce, pois esta perpassará a matéria e contribuirá para nosso desenvolvimento espiritual.

Quem constrói seu trabalho baseado na discrição, no labor desinteressado e no firme e sincero propósito de ajudar e desenvolver a Maçonaria e, consequentemente, a sociedade na qual estamos inseridos, contribui para o desenvolvimento individual, coletivo e universal, buscando de forma eficaz e constante a missão da Maçonaria: Tornar feliz a humanidade.

Tal pensamento não está restrito à Secretaria, pois todos os cargos em Loja são imprescindíveis para uma boa administração, tanto os que necessitam um completo conhecimento ritualístico para uma boa sessão quanto o necessário para manutenção da Loja, salientando que restringi este trabalho ao cargo de Secretário por ser objeto de nosso estudo nesse trabalho.

Portanto queridos Secretários, exerçamos com dedicação e compromisso tão importante cargo que nos foi confiado, façamos como Salomão e roguemos ao Grande Arquiteto do Universo sabedoria para refletir o quanto ocorre em Loja de maneira justa e perfeita, evitando que os nossos balaústres sejam afetados por nossas considerações pessoais e não espelhem exatamente o quanto acontecido em Loja, salientando que esta conduta viciará a história da Loja, por não retratar exatamente o ocorrido.

Tenhamos o discernimento para aplicar o simbolismo da Régua de 24 polegadas de maneira eficaz em nossa rotina para que pranchas, correspondências, balaústres, enfim, toda a documentação sob a nossa guarda seja tratada com o respeito necessário e nossa Secretaria seja uma aconchegante biblioteca, não um tenebroso depósito de poeira e insetos.

E importantíssimo: Façamos como a Lua que não produz Luz, mas a reverbera de maneira tão bonita que é cantada e decantada a gerações.

 

 

SIMBOLOGIA E MUDANÇAS: ALGUMAS NOTAS E INTERCORRÊNCIAS SOBRE A CERIMÔNIA DE INICIAÇÃO

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SIMBOLOGIA E MUDANÇAS: ALGUMAS NOTAS E INTERCORRÊNCIAS SOBRE A CERIMÔNIA DE INICIAÇÃO(R∴E∴A∴A∴)

20151207_193043Adenilson Souza Cunha Júnior – M∴ M∴ – adenilson.cunha@hotmail.com

INTRODUÇÃO

O estudo do homem em suas complexas dimensões é o objeto precípuo da análise que constitui a antropologia como área do conhecimento. No que tange especificamente a antropologia cultural, a relação entre o homem e os símbolos assume importante destaque, tendo em vista que para os antropólogos culturais “todo comportamento humano se origina no uso de símbolos” (WHITE, 1955, p. 180).

As definições conceituais sobre o que é a Maçonaria (ASLAN, 1969; CASTELLANI, 1996; ADOUM, 2013) são convergentes, e visíveis em nossas práticas, sobre a utilização de símbolos e alegorias como elementos doutrinários para transmissão de seus ensinamentos. Pode-se dizer ainda que é indissociável da pedagogia maçônica a utilização de tais artifícios uma vez que a relação entre os símbolos e os seus iniciados, para além dos ensinamentos e perpetuação dos saberes, objetiva provocar mudanças no comportamento.

Neste breve ensaio teórico procuramos refletir de maneira panorâmica, ou seja, sem adentrar em especificidades descritivas de cada símbolo, sobre o significado e o sentido que tem a simbologia maçônica que compõe as primeiras visões do Ap∴ Maç ∴ durante o processo de iniciação.

NOTAS SOBRE A CERIMÔNIA DE INICIAÇÃO

Câmara das Reflexões

O primeiro contato com os símbolos e alegorias maçônicas que tem o ainda candidato acontece no interior da Câmara de Reflexões. Como o nome sugere, é naquele recinto que o candidato permanecerá por um determinado tempo, para que em contato com os objetos ali dispostos e as inscrições (frases) que na mesma contém, possa refletir sobre o sentido provisório da vida terrena, preparando-se para a morte simbólica no mundo profano e o renascimento enquanto Maçom.

Nas palavras de Baudrillard, a imagem da morte tem acompanhado o existir humano desde seu alvorecer, abrindo enorme vazio diante da vida, representado por um aterrorizante não-ser inominável. A morte, porém, nunca deve ser entendida como experiência real do sujeito ou de um corpo, mas, eventualmente, como na forma de uma relação social na qual se perde a determinação do sujeito e do valor (BAUDRILLARD, 1996, p. 76).

vitriol-600x800_0É neste ambiente que a fórmula “V.I.T.R.I.O.L.”, deverá provocar no candidato uma profunda reflexão sobre o desejo de avançar, pois somente após a sua tomada de consciência, a partir da subjetividade que produziu desta reflexão, se sentirá forte para assinar os documentos que lhes foram entregues, estando apto para a caminhada que não fará sozinho. Em tempo, é importante salientar que nesta etapa o candidato é remetido ao elemento TERRA.

Uma vez vencida essa primeira etapa, o candidato é conduzido à porta do Templo na esperança de ser feito Maçom, sendo anunciada a sua pretensão por ser livre e de bons costumes. Ele não enxerga, pois consoante com o que foi realizado na Câmara de Reflexões ele ainda encontra-se em estado de “transe”, na escuridão, a procura a verdadeira luz.

Declarando-se como pronto, o candidato ao demonstrar destemor e amparado pela confiança em que o conduz começa sua jornada praticando suas viagens simbólicas.

Em meio aos perigos e rumores, pela ÁGUA é purificado. Ao escutar os trovões e o tinir das espadas pelo AR eleva-se à harmonia de seus pensamentos e por fim, no silêncio que permite a paz e a tranquilidade, domina o FOGO.

A ritualística que o candidato pratica durante o processo de iniciação é permeada de sentidos e significados produzidos pelos símbolos. Ainda que não os veja, pela condição que se encontra, os demais elementos que formam o sistema sensorial humano; audição, olfato e paladar são aguçados e remetem a um universo de sensações que ganharão maior densidade a partir das reflexões pessoais impostas pelos dissabores da doçura e do amargor que serão testadas posteriormente.

Jung (2005) classifica a sensação e a intuição juntas, como as formas de apreender informações. A Sensação se refere a um enfoque na experiência direta, na percepção de detalhes, de fatos concretos. A Sensação reporta-se ao que uma pessoa pode ver, tocar, cheirar. É a experiência concreta e tem sempre prioridade sobre a discussão ou a análise da experiência.

Ao prestar o seu juramento solene e em seguida receber por parte do Ven∴ Mest∴ a verdadeira luz, o agora iniciado Maçom ainda na condição de neófito, recebe a sua insígnia, que deverá usar para o trabalho, porta seus instrumentos – régua de 24 polegadas, maço e cinzel – e como primeiro ato cônscio (já que tem seus sentidos sensoriais retomados) da à primeira pancada na P∴B∴ passando então a desbastá-la.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES (IN) CONCLUSIVAS

A cerimônia de iniciação se constitui pela soma de diversos elementos que devem provocar no Maçom uma complexa e profunda reflexão. As experiências vivenciadas passam a ganhar sentido a medida que as relações entre as sensações e o sentimento individual subjetivo provocado pelas reflexões filosóficas do cerimonial estabelecem nexos com o real significado de fazer parte da instituição.

Só terá sentido, e caberá reconhecer seu propósito de permanência na Ordem, se o simbolismo da iniciação serviu para que o indivíduo se faça disposto ao seu aprimoramento moral, intelectual e humano. No desbastar da P∴B∴ o Maçom deverá remeter a todo instante os seus pensamentos para o real sentido e significado de ser Maçom.

A dimensão inefável da iniciação e o seu conteúdo precisam ser transposto para suas ações no cotidiano, exercitando aquilo que lhes foi exigido para o ingresso na Ordem e aprimorando-o cada vez mais.

As relações simbólicas não se restringem ao Templo e sua decoração. Ela precisa ganhar sentido nas ações que o Maçom desenvolve, nas relações que estabelece entre os conhecimentos adquiridos e sua execução em direção ao aprimoramento moral e espiritual.

REFERÊNCIAS

ADAUM, Jorge. Grau do Aprendiz e seus Mistérios. São Paulo: Pensamento, 2013.

ASLAN, N. Estudos Maçônicos Sobre o Simbolismo. Edições Grande Oriente do Brasil: Rio de Janeiro, 1969.

BAUDRILLARD J. As trocas simbólicas e a morte. São Paulo: Loyola, 1996.

CASTELLANI, J. Maçonaria e Astrologia. A trolha: Londrina, 1996.

GOB. Ritual do 1º Grau – Aprendiz Maçom R∴E∴A∴A∴ Grande Oriente do Brasil. Brasília, 2009.

JUNG, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 2005.

WHITE, Leslie A. The Science of Culture: a study of man and civilization. Strauss and Company: New York, 1955.

Este Trabalho foi apresentado pelo autor na Aug∴ Resp∴ Gr∴ Benf∴ Loj∴ Simb∴ Rei Salomão (GOB/GOB-MG) Or∴ de Belo Horizonte (MG) em 12/05/2014 e na Aug∴ Resp∴ Benf∴ Loj∴ Simb∴ 7 de Setembro Barão de Mauá (GOB/GOB-MG) Or∴ de Belo Horizonte (MG) em 16/05/2014.

A importância da Sindicância

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ESMERALDINO HENRIQUE DA SILVA – Mestre Instalado – CIM 142776

Da fundamentação legal à luz do RGF

Consta do art. 8º, do Regulamento Geral da Federação, que Sindicância é parte de um processo pelo qual constata-se se um candidato pode ou não ser admitido na Ordem. Referido artigo, em seu § 1º e nos 23 itens que o escoltam, enumera vários tópicos a serem perguntados sobre o candidato e no § 2º diz-se que as sindicâncias devem ser de, no mínimo, três e que os sindicantes têm até 30 dias depois de recebidas para devolvê-las e que no art. 9º, parágrafo único só há três casos em que o maçom pode recusar uma sindicância: parentesco, amizade ou inimizade.

No art. 10, § 1º, os proponentes e os sindicantes são responsáveis, perante à Loja e à Ordem pelas informações prestadas, sendo permitido aos proponentes a retirada do processo antes da leitura das sindicâncias.

No art. 11 diz que os únicos a terem acesso ao processo de admissão são o Venerável Mestre, o Secretário e a Comissão de Admissão e Graus e que no art. 13, § 2º, é vedado ao sindicante e a qualquer maçom deixar de comunicar qualquer ato ou fato que desabone o candidato.

Uma coisa que é importante, e que todos os irmãos precisam saber, é que aqueles que não desejarem fazer uso de seu legítimo direito de voto, poderão solicitar cober­tura temporária do Templo, assim que o Venerável Mestre anunciar que vai ler as sindicâncias para, a seguir, efetuar o escrutínio secreto. Porém, em permanecendo, não poderá abster-se de votar.

Dito tudo isso, partamos para o nosso trabalho. O que é uma sindicância? Quais são seus objetivos e o que pretendemos?

A importância da Seleção

Antes de chegar à sindicância “…os maçons só devem admitir em suas Lojas homens maiores de idade, de ilibada reputação, com salário que não comprometa sua família e que possam contribuir com suas obrigações financeiras com a Loja, gente de honra, leais, discretos, dignos em todos os níveis de serem bons irmãos se iniciados forem e aptos a reconhecerem os limites do homem e do infinito poder do Eterno”, conforme escreveram três irmãos do Oriente de Campo Mourão – PR, na Revista A TROLHA nº 258,   p. 21, de abril de 2008.

Após terem sido feitas as sindicâncias, o Venerável Mestre encaminhará o processo completo para a Comissão de Admissão e Graus para que possa ser feita uma análise completa do processo e das sindicâncias feitas. O presidente dará o parecer por escrito e sendo favorável ao escrutínio, no dia que for lido o parecer é feito o escrutínio secreto.

Para que se chegue ao final desejado temos que ter em mente que, escolhas precipitadas ou comprovadamente equivocadas, são uma grande ameaça ao futuro da Maçonaria. Qualquer equívoco no momento da seleção fará surgir, em futuro mais ou menos próximo, os dissabores da decepção. E quando a Iniciação já se efetivou, torna-se tardio o exame dos vícios morais trazidos pelo   Candidato e que foi ali inserido onde, a rigor, não deveria estar. Este é o cuidado que deve ter o proponente, e, principalmente, os sindicantes, pois a Loja confia em suas afirmações.

Devem ser abordados com rigor a necessidade do sigilo no processo de seleção, questões sobre o perfil e o comportamento ético dos candidatos, a importância da sindicância e a prevalência da qualidade sobre a quantidade, pois isto são causas que podem dar origem a alguns problemas relacionados com a futura evasão de irmãos do quadro e com os desastrosos efeitos dela decorrentes.

Quando um irmão está avaliando um candidato, com vistas à sua iniciação na Maçonaria, há que se avaliar muito mais do que o caráter revelado na convivência social. O fato de serem trabalhadores e honestos são características imprescindíveis para serem iniciados, mas elas por si só não bastam.

A importância da Sindicância

O momento mais importante do processo seletivo, desde que ocorre a indicação de uma pessoa, com o objetivo de iniciação é a sindicância. É nesse momento que os Mestres da Loja, designados pelo Venerável Mestre, apurarão as qualidades do candidato, ocasião em que será traçado seu perfil, por meio de circunstanciado questionário e aí o sindicante deverá ser o mais rigoroso possível, obtendo todas as informações possíveis, pois elas serão os olhos e os ouvidos da Loja e todos atentos estarão ligados em tudo que for dito. Na parte onde é dito faça um relatório à parte, faça-o enfaticamente, pois tudo será importante na hora do voto.

É recomendável que, ao fazer a visita ao candidato não deve o Sindicante levar o formulário institucional e sim uma agenda e ir anotando todas as informações dadas, o que achar interessante e os contatos fornecidos pelo interessado. Nunca deixar de ter uma conversa particular e franca com a esposa para saber se realmente ela concorda com o ingresso dele na Maçonaria. Embora seja função do padrinho, nunca deve o Sindicante deixar de informar também os custos da iniciação e os compromissos financeiros mensais que ele passa a ter após a iniciação.

O sindicante não pode descurar de seu dever maçônico. Não se pode permitir ignorar problemas sérios do candidato indicado     e nem deixar de relatá-los, com receio de contrariar quem quer que seja.

Ocorre ainda que o sindicante, por falta de contato com o candidato ou ainda, por falta de tempo para empreender diligências mais aprofundadas, acaba respondendo o questionário de forma superficial, com suas impressões pessoais ou mesmo deixando vários campos sem resposta, por não tê-las conseguido obter nas investigações realizadas. E, nos campos destinados a outras observações, ou seja, no relatório, nada acrescenta.

Este é um momento extremamente delicado e deverá ser preferível suspender o procedimento ou sugerir a designação de novo sindicante, nunca tendo pressa em concluir o processo, pois, depois de ser iniciado o escrutínio ele não pode ser paralisado, sob quaisquer pretextos ou alegações. Então para que a sindicância possa cumprir o seu objetivo, que é conhecer o candidato íntima e profundamente. Importante ressaltar que, antes do escrutínio ser trazido à Loja, passe todo o processo de admissão pela Comissão de Admissão e Graus.

Da sindicância deve resultar uma radiografia completa do candidato, revelando não só os dados principais sugeridos no questionário, mas o verdadeiro perfil moral e social da pessoa proposta, seus hábitos e costumes, seus gostos, os traços mais marcantes de sua personalidade e fazer contato com todos que ele disse conhecer, além de sua experiência de vida.

imagesE, se, depois de tudo, as respostas não forem conclusivas e convincentes, a melhor opção será, após ouvir a Comissão de Admissão e Grau, deixar o procedimento “sob malhete”, aguardando que o tempo revele a certeza de que o candidato, agora sim, seja digno de ser iniciado nos augustos mistérios da Ordem e que irá se comportar como um verdadeiro maçom.

De outro modo, aumentará o risco de incorporar à Loja novos “profanos de avental”, como não raro acontece, na tentativa de suprir lacunas numéricas deixadas pelos que da Ordem se afastam.

Por fim, concluindo, é bom que se diga que, sindicância bem feita, sem pressa nem atropelos, é sinônimo de qualidade. Não se deve preocupar com quantidade e nem pressa em iniciar.

Indicar um candidato para ser iniciado maçom é tarefa de grande responsabilidade que se intensifica na pessoa de quem o apresenta e de quem realiza a sindicância. Se a seleção for rígida e eficiente, ingressarão novos irmãos. Se não for, ingressam novos problemas.

A escolha deve operar-se sem conivência nem omissão. É preferível perder dez excelentes candidatos pelo rigor na escolha, do que admitir um só que não seja um bom maçom, por absoluta falta de zelo na seleção.

Tenhamos sempre em mente que, na maioria das vezes, um bom maçom parte sempre de uma sindicância bem feita.

BIBLIOGRAFIA

– Regulamento Geral da Federação – GOB.

– Revista A TROLHA – n.ºs 258/2008, 276/2009, 277/2009, 283/2010, 322/2013.

LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE  

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Irmão Paulo Ludovico
 

A verdade sobre a trilogia Liberdade, Igualdade e (?)

Sempre que acontecimentos do passado são tidos como marcos positivos na história da humanidade, a maioria dos maçons atribui a esses acontecimentos influências maçônicas. Muitos dizem, por exemplo, contrariando os fatos, que a Inconfidência Mineira se deu por influência da Maçonaria. Não é bem assim, como comprovam influentes pesquisadores e historiadores maçônicos, a exemplo de José Castellani e Kurt Prober. Mas essa é uma história para ser abordada em outro momento. Outro grande mito, difundido por muitos maçons e até por algumas obediências, diz respeito à trilogia Liberdade, igualdade e Fraternidade. Dizem esses maçons que a Revolução Francesa (1789) inspirou-se na maçonaria para adotar essa divisa. Há quem diga, de maneira contrária, ter sido a maçonaria, inspirada na Revolução Francesa, que passou a usar o lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade. De acordo com o que se pode pesquisar, revendo os livros de História, erram as duas correntes de pensamento. Nem a maçonaria tirou da Revolução Francesa tal divisa e nem a Revolução inspirou-se na maçonaria para criar o seu lema. De acordo com a história, o povo francês, oprimido pela nobreza, faz crescer o sentimento de liberdade individual, de igualdade entre todos os homens, que deveriam ser conquistados até com a morte se necessário fosse. Assim, nasceu a Revolução Francesa e com o ela o lema “Liberte, Egalité ou la Mort”, que, traduzindo-se, quer dizer: Liberdade, Igualdade ou a Morte.  Na época, os revolucionários elaboraram uma Constituição que suprimia os privilégios que beneficiavam a nobreza e o clero, como a venda de cargos públicos, a isenção de impostos e do dízimo. Em seu preâmbulo, a Constituição da República trazia uma série de fundamentos que passaram a ser conhecidos como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Só mais tarde, por ocasião da instalação da segunda República, em 1848, é que o antigo lema passou a ser “Liberte, Égalité e Fraternité”, como conhecemos hoje, significando, Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

revolucao-francesaÉ honesto dizer que foi a Maçonaria francesa que, lá pelo final do século XIX, começou a utilizar a trilogia da segunda República, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Costume que se popularizou no mundo inteiro entre os maçons que trabalhavam sob a influência francesa, a ponto de todos entenderem ser, originariamente, uma divisa maçônica. Um pesquisador francês, Alec Mellor, acerca do tema, escreve o seguinte:

“a 1ª República conheceu bem a divisa Liberdade, Igualdade ou a Morte, mas tal programa ideológico não foi jamais o da Maçonaria. Foi somente sob a 2ª República que a tríplice divisa surgiu. Mas não foi a República que tomou emprestada a divisa à Maçonaria, mas, sim, a Maçonaria é que a tomou emprestada à República” – (in Dictionnaire de la Franc-Maçonnerie et dês Fran-MNaçons – Bekfond – Paris, 1971)

Liberdade, Igualdade e Fraternidade sob dois aspectos

De acordo com o Irmão historiador e ritualista, José Castellani, “a idéia de Liberdade Igualdade e Fraternidade é bem remota e com vestígios numa seita fundada lá pelos idos de 1694”.

Para a seita, fundada por Johann Kelperès, o Messias se apresentava através de uma trilogia, na qual ele era o distribuidor da justiça = IGUALDADE, o grande irmão = FRATERNIDADE e o libertador = LIBERDADE.

Em nossos dias, a trilogia, hoje largamente utilizada como lema da Maçonaria, pode ser analisada sob dois diferentes conceitos. Um, o conceito sócio-político e o outro, o que pode ser analisado, tomando-se por base aspectos iniciáticos.

No primeiro ponto de vista, o sócio-político, IGUALDADE quer dizer o ideal a ser atingido pelas nações em seus sistemas de organização social. Aliás, desde a Revolução Francesa, que declarou a igualdade entre todos os homens, a humanidade não deixa de lutar na conquista de seus direitos sociais, políticos e econômicos. Já a FRATERNIDADE, escreve irmão Castellani, “é considerada como a conduta que norteia a vida de um indivíduo”. Assim sendo, a fraternidade é o objetivo de instituições e grupos sociais e religiosos, de partidos políticos, de associações e de todo e qualquer grupamento que tenha em mente o bem estar social do indivíduo. Vive-se na busca do perfeito equilíbrio entre o amor e o ódio, entre a tolerância e a intolerância. E por último, ainda numa visão sócio-política, a LIBERDADE, como o segundo na hierarquia dos direitos do cidadão, já que o primeiro desses direitos é o direito à vida, é inerente ao existir de cada um. A Constituição da República, a de 1988, traz em seu grupo de direitos individuais o direito de ir e vir, ou seja, o direito à liberdade que só pode ser obstado por conduta contrária ao que determina a lei.

No ponto de vista iniciático, essa trilogia se verifica como busca não coletiva, mas individual de cada um. É conquista não de nações, povos ou de grupos sociais, quaisquer que sejam, mas trata-se de uma conquista individual de cada iniciado, a ser perquirida, durante toda a vida, degrau após degrau, na subida incansável da decantada Escada Mística, a Escada Iniciática de Jacó. Sob esse ponto de vista, IGUALDADE, como uma condição individual, que deve ser exteriorizada acima “de todas as distinções externas, geradas por posições sociais, por grau de conhecimento ou de desenvolvimento intelectual”. FRATERNIDADE, também sob o aspecto iniciático, trata-se de tolerar-se no outro as conquistas advindas da liberdade, além de compreender a necessidade de que as relações sejam exercitadas sob os ditames da igualdade. E por último, LIBERDADE, do ponto de vista iniciático, como já dissemos, trata-se de uma aquisição individual, que independe de toda e qualquer liberdade definida em lei. A liberdade a que nos referimos, resulta da busca e da perfeita compreensão da verdade, que deve ser o norte, o objetivo de todo e qualquer iniciado, como diz o ritual do Aprendiz Maçom, no trilhar do caminho da virtude, banindo os hábitos negativos, o fanatismo e as paixões destrutivas.

OMISSÃO

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por

Danilo Bruno Louro de Oliveira, 22º, MEM

ARLS União e Justiça nº 27, Poções/BA – Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia

Membro Correspondente da Loja Francisco Xavier Ferreira de Pesquisas Maçônicas – MLAA

E-mail: bel.danilobruno@gmail.com

Omissão: 1. Ato ou efeito de omitir (-se). 2. Aquilo que se omitiu; falta; lacuna.

Omisso: 1. Em que há omissão ou lacuna. 2. Que mostra, ou revela, desatenção, descuido; negligente.

Omitir: 1. Deixar de fazer, dizer ou escrever, não mencionar; 2. Descuidar-se de fazer; 3. Deixar em esquecimento; 4. Não agir quando se esperaria que o fizesse.

Pedindo auxílio ao Dicionário Aurélio, acima está definida a omissão, qualidade de todos nós a praticá-la e ações que a configuram.

            É muito conhecida a frase que, entre outras variáveis, pode assim ser dita: “O pior não é a atitude dos maus, mas o silêncio dos bons”.

Esta frase atinge um ponto nevrálgico de nossa sociedade, a omissão, conduta largamente disseminada por sua facilidade de execução, afinal muito mais cômodo do que transpor a indignação e/ou repulsa por determinado assunto, é simplesmente fingir que não é conosco e fechar os olhos para uma situação que poderia ser resolvida ou amenizada com uma ação, muitas vezes simples, tomada por nós ou mediante nossa intervenção.

            Porém, tal pensamento não deve nortear a postura e conduta dos Maçons, pois, independente de sua crença individual, é exigido do candidato que acredite no Grande Arquiteto do Universo e em uma vida futura, chamados “Landmarks”, podendo ser traduzido como “marco”, limite ou “ponto de referência”.

E a consequência lógica dessas convicções é a certeza de uma contínua e inevitável evolução, ou seja, a consciência de que estamos constantemente avançando e para atingir tal desiderato, imperiosas são as ações, as modificações benéficas do ambiente praticadas por nós ou, pelo menos, que tenham nossa efetiva participação.

Tal idéia não deve ser olvidada em nenhum momento de nossa vida, pois se estamos aqui para “progredir”, “melhorar” ou “expiar” é lógico que dificuldades, empecilhos, necessariamente, serão postos em nosso caminho, tornando-se elementar a consciência que a alguns será dado poder, dinheiro, tempo e/ou posições de destaque e, se não agirmos ou agirmos mal com o que nos é dado, estacionaremos ou, talvez, recrudesceremos em nosso desenvolvimento.

E este pensamento é importantíssimo no que diz respeito à Maçonaria, pois a nossa missão principal é “Tornar Feliz a Humanidade” e esta pode ser facilmente decantada superficialmente ou de maneira hipócrita, pois o enganador anuncia ter a intenção de progredir a humanidade, porém está inerte ou deturpa sua busca pela própria felicidade, não entendendo os valores do que prega, não podendo ter outra conduta senão a omissão ou a ação má e imprópria.

Lembrando que qualquer modificação substancial no ambiente que nos cerca não passa de ilusão ou falsidade caso não haja uma anterior modificação interna; Nenhuma melhora exterior pode ser eficaz e salutar se não vier acompanhada do avanço interior, sincero e puro, dos construtores daquele; Sejamos construtores sociais, mas primeiro edifiquemos a nós mesmos, nossa Pedra Bruta.

Uma atitude omissa e, infelizmente, recorrente na Maçonaria é o orgulho de alguns Irmãos em dizer que indicaram pouquíssimos Maçons em suas décadas de vida Maçônica, notadamente quanto um candidato, após iniciado, não corresponde às expectativas e/ou não demonstra interesse pela Ordem.

Infelizmente, presenciei Poderosos Mestres e Mestres Instalados do alto do Oriente gabarem-se ao dizer que fizeram apenas uma ou duas indicações de profanos em décadas de trabalhos Maçônicos e que estes são bons Maçons, criticando, algumas vezes até com razão no mérito e grande falta na forma, a quantidade de colunas decifradas com indicações de profanos ou a desilusão sentida pela Loja pela conduta de algum Neófito.

Porém, não podemos esquecer que a Maçonaria é composta por Maçons, por Homens, não por títulos, cargos ou pronomes de tratamento, santos ou heróis, mas por pessoas, por imperfeitos em busca de um melhoramento individual e coletivo.

Na hipótese de todo Maçom indicar três candidatos em 30 ou 40 anos de Maçonaria, fatalmente a Ordem deixará de existir, por simples matemática. Caso não tenhamos a convicção e firmeza de cumprir a exortação dos rituais em procurar homens livres e de bons costumes na sociedade profana, o fim da Maçonaria será a inanição.

Isto porque, conforme consabido, nenhum profano tem “estrela na testa” indicando que será um bom Maçom. Em nossa curta caminhada presenciei muitos Irmãos no qual foram depositadas grandes esperanças não corresponderem e serem, literalmente, decepções profundas aos que dedicaram muito de seu tempo a trabalhar uma iniciação.

Porém todos os aspectos da vida possuem dois lados, duas interpretações, dois gumes, assim candidatos aprovados mesmo com, ressalvas e reservas de alguns minoritários e Poderosos Irmãos revelam-se excelentes Maçons, contribuindo com o que tem de melhor para a Ordem, sejam metais, tempo, até mesmo ajuda em trabalhos manuais ou a importantíssima assiduidade e atenção em Loja, ensinando pelo exemplo.

Outra grave manifestação da omissão é quando alguns Irmãos, alguns com motivos mais fortes e outros por simples dissabores, manifestam em Loja, quando possuem alguma consideração pela Ordem e/ou pelos Irmãos, que irão afastar-se das atividades, seja pedindo quit-placet ou simplesmente faltando com as obrigações adquiridas mediante juramento forçando um decreto de irregularização.

Tal atitude tem o condão de desestimular toda a Loja por algumas atitudes tomadas pelo Irmão como:

  1. Não informar o que o incomodou a ponto de ter tomado tal atitude, ficando os Irmãos, notadamente os membros da administração questionando se suas condutas e proposições estão tão equivocadas a ponto de causarem a saída de Irmãos;
  1. Alegar meros dissabores que não justificam a extrema atitude de abandonar uma instituição que o acolheu com tamanho carinho e atenção, sem olvidar que o Iniciado compromete-se com a Maçonaria mediante juramento;
  1. Alegar incompatibilidade ou rusga com algum Irmão, esquecendo que o caráter fraternal da Maçonaria revela-se no perdoar e tolerar as diferenças, pois é muito fácil apenas amar os que nunca erram; Os que pensam e agem conforme imaginamos ser o certo; Os que nos são caros, olvidando que nossa caminhada à perfeição está sujeita a pequenos tropeços e dissabores com o próximo, com nossos Irmãos, porém os grandes problemas são vencidos em conjunto, como auxílio e amparo.

A Omissão pode até ser silenciosa e, aparentemente, menos danosa que más ações e exemplos, porém também gera desunião em um ambiente, por definição, fraterno; Gera conflitos em um ambiente sagrado; Gera involução onde a perfeição é buscada.

Meus Irmãos, antes de ficarmos chateados, desiludidos e tristes por conta das coisas não ocorrerem como milimetricamente planejamos; Antes de utilizarmos a porta dos fundos para escaparmos das obrigações contraídas mediante juramento; Antes de abandonarmos nosso labor como Construtor Social; Antes de esquecermos nossa missão de tornar feliz a humanidade, repensemos nossas atitudes, reflitamos se, ao menos estas, estão de acordo com o nosso pensar e agir.

Conjecturemos se estamos saindo da confortável zona da omissão, da cautela exagerada, das tradições inventadas, da crítica generalizada e injusta ou se estamos no alto de pequenos tronos, mesas ou altares, apontando dedos e ameaçando, ou efetivamente saindo, de uma Ordem tão antiga e tão perfeita por conta, unicamente, de nossas manifestadas imperfeições.

Antes de falarmos que a Maçonaria não age, vamos agir; Antes de criticar o Venerável que não atua, vamos nos colocar a disposição, independente de cargo; Antes de criticarmos os erros do Irmão, vamos nos oferecer para ajudá-lo e orientá-lo; Antes de recusar cargos para compor a Loja, vamos pensar em efetivamente contribuir com algo; Antes de nos desculparmos pela impossibilidade de ocupar cargo vago, vamos levar nossos rituais para a sessão; Antes de criticar ou indicar candidatos, vamos nos inteirar, de maneira imparcial, de sua conduta profana.

Até porque este foi o ensinamento de Jesus:

          “Não julgueis, para que não sejais julgados; porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e a medida de que usais, dessa usarão convosco. Por que vês o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que tens no teu? Ou como poderás dizer a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão.» (Mateus 7:1-5)

Assim Meus Irmãos, com a consciência que possuimos traves ou argueiros em nossos olhos e que estes não saem por si só, nem por condutas omissas, interiorizemos os ensinamentos passados, dividamos os exemplos presenciados, pratiquemos o quanto aprendido para que possamos ser felizes para tornar feliz a humanidade.

Na Palavra a Bem da Ordem todos os Irmãos devem falar de pé e à Ordem? (REAA)

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100_1039[1] (1)No simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito, em qualquer situação no Ocidente todo o Obreiro usando a palavra em Loja aberta fala em pé, portanto à Ordem – corpo ereto, pés unidos pelos calcanhares formando uma esquadria, compondo como a mão, ou mãos se for o caso o Sinal do Grau (dito Sinal de Ordem). Os únicos Obreiros que podem falar sentados no Ocidente – salvo se o ritual determinar o contrário – são os dois Vigilantes. Caso eles prefiram falar em pé, ficam à Ordem e compõem o Sinal com a mão, ou mãos deixando os seus respectivos malhetes sobre a mesa. Assim é o procedimento em qualquer período da Sessão que envolva o uso da palavra. O Mestre de Cerimônias, o Hospitaleiro e o (s) Cobridor (es) caso estejam empunhado o objeto de trabalho na forma de costume (bastão, bolsa, espada), se a oportunidade permitir o uso da palavra, parados eles estarão com o corpo ereto e os pés em esquadria. Nesse caso não se usa o instrumento de trabalho para com ele compor o Sinal, isto é, não se usa o instrumento, ou objeto de trabalho para fazer Sinal.

PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com

Fonte: Informativo JB News Edição 1647  – Dez/2014